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Shinji, Haruka, Hayase e Takayuki |
(Esse post faz parte da blogagem coletiva, onde alguns blogs vão publicar nesse sábado um texto sobre Kimi Ga Nozomu Eien, os demais links serão exibidos no final.)
Se eu tivesse que sintetizar Kimi Ga Nozomu Eien (A eternidade com a qual você sonhou) em apenas uma ideia, ela seria: Uma obra obrigatória para qualquer adolescente que assiste animes. Construí essa impressão na primeira vez em que assisti ao anime, por volta de 2005 aos 15/16 anos e reafirmo ela ao assistir novamente aos 21.
Se eu tivesse que sintetizar Kimi Ga Nozomu Eien (A eternidade com a qual você sonhou) em apenas uma ideia, ela seria: Uma obra obrigatória para qualquer adolescente que assiste animes. Construí essa impressão na primeira vez em que assisti ao anime, por volta de 2005 aos 15/16 anos e reafirmo ela ao assistir novamente aos 21.
Kiminozo é um drama romântico que enfoca um triângulo amoroso. Putz, deve ser uma melação para meninas ginasiais, o leitor pensa. Eu também fiquei com essa impressão nos dois primeiros episódios. Apenas para sintonizar aqueles que não assistiram, o enrendo inicial trata de quatro personagens. Suzumiya Haruka e Hayase Mitsuki são duas amigas, a primeira muito tímida, a segunda extrovertida e animada, praticante séria de natação. Haruka é apaixonada por um colega de classe de Hayase, o jovem Takayuki. Com a ajuda da amiga, Haruka se declara para o cidadão com a qual nunca havia trocado uma palavra e ele...aceita. Calma, leitor, não se trata da versão asiática de Malhação. A situação começa a ficar interessante no final do segundo episódio, quando Haruka é atropelada, hospitalizada, permanecendo inconsciente por três anos. (válido lembrar que todos estavam para completar o ciclo escolar e já iniciavam os preparativos para os exames de admissão).
O pulo cronológico que a série dá é um claro aviso: Acabou a fantasia, o joguete de crianças. Abandonai toda a esperança, ó vós que entrais no mundo adulto. Enquanto Haruka permaneceu presa no tempo amarrada a uma cama de hospital, os demais finalizaram o colégio e deram sequência em suas vidas. De modo surpreendente, descobrimos que Takayuki está namorando Hayase, a melhor amiga da sua 'namorada pendente' do hospital (posteriormente descobrimos que ela também se interessava por Takayuki nos tempos da escola). Tudo certo até o dia em que Akane, irmã mais nova de Haruka, liga avisando que ela havia acordado.
Inicialmente, Takayuki apenas aceitou o relacionamento proposto por Haruka, que ele mal sabia quem era. Ele, de modo nítido, se sentia pressionado com a situação, sensação claramente exposta pelo diretor com a chaleira apitando após o telefonema de Hayase. Com o tempo ele desenvolve uma forte empatia com a pueril Haruka, mas de cara já é possível perceber que algo ali não está perfeito. Na primeira vez em que Haruka propõe fazer o tal do encantamento (e quer coisa mais quinta série do que isso?), Takayuki não termina a última frase a respeito de não esquecer o outro (ou o diretor cortou antes, indicando ao telespectador mais atento o rumo das coisas).
Nos tempos do relacionamento juvenil... |
Apesar de após os três anos o relacionamento com Hayase aparentar estabilidade, ele não surgiu de modo orgânico. O decorrer dos episódios mostra como a vida de todos foi fortemente impactada pelo acidente. Takayuki entra num estado catatônico pelo impacto do acidente e sensação de culpa. Hayase o traz de volta a vida, mas não com palavras - que soavam inúteis - e sim com sexo. O estalo que o trouxe de volta ao planeta Terra foi algo muito menos idealizado, não foi uma simples declaração platônica de amor pela essência, ou coisas do gênero muito valorizadas quando se tem 15 anos, foi um corpo quente e nu forçando um abraço, foi o sinal maior de animalização da humanidade.
O anime deixa claro também como a vida dos dois se manteve pendente com a situação de Haruka. Takayuki que tinha boas notas e almejava uma boa faculdade acaba com uma porcaria de emprego de meio período num restaurante. Como Hayase notou, o pôster na parede de um jogo de videogame dos tempos do colégio mostrava como ele ainda estava muito preso àquilo. Com ela a situação não foi diferente, com atuações na natação que a qualificavam para um futuro profissional, ela abandona tudo por Takayuki e termina com um emprego tedioso num escritório.
Apesar de tudo, ambos dão sequência na vida do jeito que podem...até Haruka acordar, sem ter noção do tempo passado. Agora, para Takayuki, quem é sua namorada? A atual ou a pendente que ainda acredita viver os tempos de colégio? A dúvida se instala e ele deixa claro que ainda considerava Haruka, o que fica simbolizado pelo derrubar da caneca de golfinho que representava a ex-nadadora. Takayuki começa a visitar Haruka no hospital fingindo ser ainda um estudante colegial, fingindo ainda namorá-la.
Se Takayuki tinha a problemática da namorada, Hayase não estava menor perdida, abrira mão de sua vida na natação por ele e agora era colocada em xeque pela única coisa que alicerçava sua existência. Hayase, diferente de Haruka, é forte e novamente toma a iniciativa. Se primeiro usou o corpo para quebrar o gelo, agora ela força a mudança para o apartamento de Takayuki para ver se consegue uma estabilização no relacionamento. O problema é a reação lacônica do cidadão, que passa a evitar o olhar, a conversa, o toque e mesmo a presença, vagando por bares e comendo porcaria pela rua enquanto a comida preparada por Hayase ficava esfriando na mesa.
Takayuki vai ao hospital e trai Hayase com Haruka. Novamente Hayase tenta segurar a barra do relacionamento com o corpo, relacionamento que dia a dia perde a liga, situação claramente mostrada pelos dias chuvosos e pelo curry preparado perdendo a temperatura. A ex-nadadora questiona porque tudo deu errado após o acidente e afogada pela nostalgia deseja voltar para os tempos do colégio, para a era da irresponsabilidade, da idealização. A traição é retribuída por Hayase que faz com Shinji, também melhor amigo de Takayuki até então, mas poderia ser com qualquer um....
O fato é que durante a forte febre que pegou, Takayuki percebeu que Hayase é quem estava prestativa ao seu lado o tempo todo. Haruka era uma pendência passada, sua vida havia avançado e Hayase Mituski era o presente, não mais Haruka. Ele apenas se manteve prestativo com uma Haruka em busca de um namorado que não existia mais, o Takayuki do colégio morrera há 3 anos, esse é outro que ela não conhecia mais. Takayuki então finaliza o anime com Hayase, sua atual, abrindo mão da namorada pendente ainda que a situação dela fosse excepcional e delicada.
O anime foi baseado num eroge (jogo erótico de relacionamentos com múltiplos finais) e escolheu apenas uma das possibilidades. Na minha opinião, indubitavelmente a mais interessante, real e sensata. Acho esse título muito expressivo por mostrar um lado nunca explorado pela ficção romântica sem apelar para enredos cultos ou entrópicos.
Kimi Ga fala de relacionamentos reais, que contam com altos e baixos, traição, sexo como artifício de barganha, mas também companheirismo e projeto de vida. Enquanto todos os animes para adolescentes retratam relacionamentos platônicos e idealizados (platônico no sentido literal mesmo, pois em muitos não há sequer a insinuação sexual, é modelo ideal puro e simples, vide Bakuman onde o casal sequer troca palavras até alcançarem seus objetivos, ainda que estudando na mesma sala), Kimi Ga nos mostra o que é de fato a realização afetiva na vida adulta sem perder suas raízes como anime.
Mais do que isso, mostra que as coisas acontecem para quem toma a iniciativa. Hayase nunca deixou de tentar e merece o resultado final pelo esforço dedicado ao seu objetivo. Notem que da abertura ao final da trama, é sempre Hayase e não Haruka quem se move primeiro. Também nos dá uma aula do que é a expressão amorosa quando se sai da adolescência. Enquanto a paixão se dá por uma projeção dos seus próprios desejos e valores numa pessoa qualquer (caso da Haruka que sequer tinha trocado uma palavra com Takayuki), o amor que se desenvolveu com Hayase é real. Ambos conhecendo o outro como ser humano, desejante e falho em diversos pontos, mas ainda sim digno de se montar um projeto de vida juntos.
A recepção foi tão negativa que criaram um final alternativo na forma de OVA para agradar os propugnadores do amor como a flechada de Eros, algo inexplicável que pode ocorrer entre qualquer um em qualquer momento. Puro e ideal. Hayase é odiada por boa parte do fandom. Mas a abertura já deixa claro que chega um momento onde deve-se deixar as idealização infantis no passado. Entendo que a função da ficção é justamente fazer as pessoas sonharem, pois da realidade todos já estamos cheios por demais. Acontece que excesso de ficção, principalmente no Japão, está fazendo muitas pessoas desejarem algo que não existe, um modelo de relacionamento que deve permanecer apenas nos mangás, na literatura e nas novelas, jamais extrapolado para o mundo real.
Haruka não tem culpa do acidente, mas tampouco os outros dois têm. Ela é uma vítima do acaso e terá que aprender a viver com os percalços da vida. Takayuki já não estava mais no clima de ficar fazendo encantamentos e o Diabo, apesar da consideração por ela e principalmente pela situação dela.
A dose dramática em alguns momentos é até over, enquanto alguns personagens mudam de opinião e postura como o clima vietnamita (Akane e Takayuki). Também tem aquelas duas chatinhas do restaurante inseridas para quebrar o clima. O anime não é perfeito, mas pessoalmente acredito que seu diferencial compensa eventuais falhas.
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Encantamento é o cacete! |
Kimi Ga é um chamado de volta. Ele diz, viva seu conto de fadas no tempo certo que é a adolescência, é saudável viver isso dessa forma enquanto se é jovem (daí os 2 primeiros episódios melados e iguais aos demais dramas comuns), mas mantenha um dos pés na realidade. Claro que sem um pouco de fantasia, idealização e projeção a vida ficaria insuportável e todo mundo pularia da janela, só que não há vantagens em viver para sempre nem nos contos da carochinha, nem no mundo virtual. O legal dos dois primeiros episódios clichês é uma forma de captar inicialmente os adeptos dos dramas platônicos da animação japonesa para depois mostrar, ok, tudo isso é legal, mas a vida é maior. Enxergo qualidade em Kimi Ga Nozomu Eien apesar de toda a simplicidade e clichês adotados. Ele pega um assunto onde todos dão pitaco e joga uma pitada de real, tão necessária nesse mundo de jovens que se perdem na ficção. Sem ser cult, sem 'desconstrução', sem fandom fanatista metido a intelectual e sem focar na droga dos nichos otakistas, sendo uma criação mais universal. Uma obra honesta que merece ser lembrada quando o assunto é drama.
Blogs/blogueiros participantes (os que já soltaram o texto até o momento da atualização estão pintados de verde):
Netoin!, Gyabbo!, Mithril, Subete Animes, Chuva de Nanquim, Elfen Lied Brasil, MBB Anime Kenkyuukai, Anime Portfolio, Buteco Shonen, Visual Novel Brasil, Mais de oito mil, Philosophy Otaku, Yasumi no Cast, Moon Stitch, Video Quest, Mundo Mazaki, Yon Koma, Special Days, Neo Armstrong Cyclone Jet Armstrong Blog, Otameb e Subete Animes 2(texto do Nisishima).
Aqui temos a explicação da origem da blogagem coletiva:
Sei que você não vai ler 20 resenhas sobre o mesmo anime, onde talvez uma meia dúzia vai dizer a mesma coisa. Escolha alguns blogs que você conheça ou mesmo chute alguns. Quando todos lançarem o texto eu vou indicar uns 2 ou 3 que mostram uma visão diferente da minha.
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